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A realidade de um jornalista desportivo depois do apito final

2 DEZEMBRO 2023

Qual é o papel de um jornalista desportivo numa plataforma digital como o ZeroZero? Francisco Silva é licenciado em Ciências da Comunicação, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e conta ao Autoavaliação quais são os desafios e a rotina que a sua profissão acarreta e como os avanços da sociedade afetam diretamente a sua área profissional.

por Beatriz Viegas

 Apito final: fim do jogo para uns, início para outros

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Francisco Silva, defensor da camisola do ZeroZero

Beatriz Viegas: Como é a preparação para a cobertura de uma conferência de imprensa?

Francisco Silva: Normalmente, só faço conferências pós-jogo. Tento sempre destacar algo que tenha tido impacto no jogo. Seja uma substituição que resultou, um penalty não assinalado ou até assobios por parte dos adeptos. Se tem destaque, tenho de perguntar. Há vezes em que fazem a pergunta que estamos a pensar e acaba por ser frustrante, mas, normalmente, trago duas ou três preparadas para evitar esse desconforto. Também tento formular a pergunta na cabeça exatamente como a vou fazer, já que não vou estar a ler enquanto pergunto.
 

BV: Como estabeleces e manténs contactos profissionais com treinadores, jogadores e outros membros das equipas?

FS: Acho que a parte mais importante é ser afável e correto. Não deixar espaços para que se virem contra nós, porque, efetivamente, nós não estamos contra eles. Existem alturas em que temos de fazer as perguntas difíceis, que os treinadores não gostam tanto, mas não há que ter medo. Se não der azo a dúvidas na pergunta, os treinadores não têm como se virar contra nós (sorri).

 

BV: Quais são os desafios para obter informações exclusivas ou declarações em momentos como jogos e conferências de imprensa?

FS: Assenta mais uma vez em não ter medo de fazer as perguntas. O “não” está sempre garantido. Na altura do mercado de transferências, surgem rumores e, quando temos um treinador à frente, não podemos perder a oportunidade de abordar um assunto que está presente no seio do clube. Seja um jogador que está para chegar ou, por exemplo, contestação visível dos adeptos.

“É desafiante, mas quando se faz o que se gosta, não custa nada”

BV: Como é a experiência de cobrir jogos ao vivo? Quais são os aspetos mais desafiadores e emocionantes nesse processo?

FS: É um trabalho desafiante, principalmente por estarem muitas coisas a acontecer ao mesmo tempo. Normalmente utilizo as partes mais “mortas” do jogo para ir escrevendo, porque tento ter a crónica pronta logo que o jogo acaba. Obviamente às vezes tenho contratempos e chateia-me haver golos nos descontos (ri-se). Já aconteceu ter a crónica fechada, título pronto e uma equipa marcar dois golos nos descontos, obriga a mudar o texto quase todo. É desafiante, mas quando se faz o que se gosta, não custa nada.

BV: Como lidas com a pressão e os prazos apertados de relatar eventos desportivos em tempo real?

FS: Como já disse, lançamos as crónicas logo no final do jogo e isso torna as coisas mais apertadas a nível de tempo. Não há uma pressão de quem lidera o ZeroZero para isso acontecer, mas somos exigentes connosco próprios. Quando se trata de entrevistas e reportagens, é revoltante, pois não controlamos muito as coisas. Estando dependentes de terceiros para fechar uma peça, não podemos fazer muito. Já tive peças que caíram porque entrevistados deixaram de responder.

BV: Quais são as principais diferenças de cobrir uma conferência de imprensa e um jogo ao vivo?

FS: No meu caso, uma coisa leva à outra. No jogo é mais tranquilo, posso apresentar a minha visão e deixar a minha imaginação levar as coisas a bom porto. A nossa linha editorial no que toca a crónicas dá total liberdade ao jornalista para puxar pela cabeça. Nas conferências há mais pressão, visto que estamos em direto com imensas pessoas a ouvir em casa, muitas das vezes. Não existe margem de erro e por vezes as pessoas que temos à frente não são muito corretas connosco.

Conquista pessoal: jornalista com a t-shirt do português Fábio Vieira, jogador do Arsenal

BV: Sendo que já cobriste outros desportos, como futsal e basquetebol, quais são os diferentes desafios relacionados com cada um?

FS: O futebol é a “minha praia”. No futsal e no basquetebol não tenho o conhecimento do jogo e das equipas que já tenho na Primeira Liga, por exemplo. No basquetebol, por exemplo, é difícil fazer uma crónica porque está sempre tudo a acontecer e é também difícil falar sobre os jogadores se não os conhecermos.

BV: Preferes continuar na área do futebol, onde trabalhas atualmente ou há outro desporto que gostasses mais de abordar?

FS: Estou muito à vontade com o futebol e é por aí que quero ficar. É o meu mundo.

BV: Sendo que já cobriste outros desportos, como futsal e basquetebol, quais são os diferentes desafios relacionados com cada um?

FS: O futebol é a “minha praia”. No futsal e no basquetebol não tenho o conhecimento do jogo e das equipas que já tenho na Primeira Liga, por exemplo. No basquetebol, por exemplo, é difícil fazer uma crónica porque está sempre tudo a acontecer e é também difícil falar sobre os jogadores se não os conhecermos.

BV: Preferes continuar na área do futebol, onde trabalhas atualmente ou há outro desporto que gostasses mais de abordar?

FS: Estou muito à vontade com o futebol e é por aí que quero ficar. É o meu mundo.

“Sinto-me em casa e todos me acolheram muito bem.”

BV: Quais foram os momentos mais memoráveis da tua carreira a trabalho do Zero Zero? Porquê?

FS: A carreira ainda é curta, espero que continue por muitos anos porque é um local que eu adoro. Sinto-me em casa e todos me acolheram muito bem. É difícil escolher um momento, mas talvez a primeira entrevista. Foi ao Cláudio, um ex-jogador brasileiro. Foi a primeira e teve muito bom feedback, muitas leituras no site.

BV: Como é o relacionamento com os outros jornalistas que cobrem os mesmos eventos? Existe uma colaboração ou competição saudável?

FS: Não acho que exista sequer competição. Já fiz muitos amigos de outros jornais em estádios. Vamo-nos encontrando todas as semanas e falamos sempre. É sempre bom porque estamos todos para o mesmo, cada um a defender a sua camisola. Talvez não sinta tanto essa rivalidade pois trabalhamos apenas no digital.

BV: Como é que a tecnologia influenciou a forma como cobres os eventos desportivos? Há ferramentas específicas que consideras indispensáveis?

FS: Influencia em tudo. Sempre trabalhei no digital e não sei trabalhar sem isso. Computador, tripé e câmara (nós filmamos as conferências) e o telemóvel, que por vezes é também um router (ri-se).

“No jornalismo, o meu clube é o ZeroZero e vou sempre defender a camisola”

BV: Por fim, como geres a relação entre o teu gosto pessoal pelo desporto e a responsabilidade que ele representa na tua vida profissional?

FS: Não considero que tenha de fazer propriamente uma gestão. Não tenho problemas em assumir a minha cor clubística, mas também assumo que não vibro com o “meu” clube. Gosto muito de futebol, muito mesmo. O meu pai foi jogador profissional e agora é treinador, sempre o acompanhei. O que ele me disse sempre foi “sou do clube que represento” e sigo muito essa máxima. Neste momento, faço parte da equipa técnica da AD Oliveirense, da distrital de Braga, e é esse o meu clube. No jornalismo, o meu clube é o ZeroZero e vou sempre defender a camisola. Tento ser sempre imparcial e acredito que consigo.

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