top of page

Entre linhas e cansaço

O burnout, considerada uma das doenças do século conhecida também por síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio emocional com variados sintomas causados pela pressão ou stress normalmente causado pelo excesso de trabalho. Mas como é que esta doença afeta os jornalistas? Uma vez que estes profissionais têm de estar sempre em alerta e em constante pressão seja para conseguir informação atempadamente, seja da parte da opinião pública.

Ana Miguel

24 JANEIRO 2024

Para esta reportagem, o jornal Autoavaliação quis abordar o tema em três pontos de vista diferentes. A primeira opinião que fomos à procura foi de Isabel Nery, ex-jornalista da revista visão. Atualmente, é jornalista independente e faz as suas próprias investigações, transformando-nas em livros e já conta com três publicações à cerca de factos reais sobre o jornalismo. Isabel Nery coordenou um projeto sobre o burnout juntamente com a direção do sindicato dos jornalistas em que fez três das seis entrevistas deste podcast sobre o burnout que teve muito sucesso. 


A jornalista começa por explicar o motivo pelo qual decidiu aderir a este projeto, “achamos que para além das formações e de uma série de coisas que criamos na área digital era importante que passássemos para a sociedade em geral, para que o país soubesse do estado dos jornalistas”. 

WhatsApp Image 2024-01-24 at 00.19.45.jpeg

Isabel Nery confessa que o constante ciclo de notícias em prazos muitos curtos é, sem dúvida, um dos grandes motivos do aparecimento do burnout mas que isto já vem há muito tempo. Aponta que existem outros problemas que se acrescentam a esta narrativa, “a falta de meios, a precariedade dos jornalistas, e o ciclo infinito”. A jornalista acrescenta que os profissionais sentem ainda mais pressão porque os meios de comunicação são cada vez menos e com o digital a exigência aumenta consecutivamente. 


Isabel Nery fala sobre a forma como se vive o dia a dia nas redações, “é menos coletivo, agora é mais individual e por isso o sofrimento psicológico também acontece mais facilmente” especialmente por não haver um espírito de “camaradagem”, o que pode piorar toda esta situação. Em relação às redes sociais, a ex-jornalista da revista visão ressalta que têm sempre um lado negativo, o julgamento rápido das pessoas e o opinar sem estar baseado em informação, “mas o que acontece muitas vezes hoje em dia é a ignorância porque é uma opinião sem informação” e isto causa muitos conflitos e stresses nos jornalistas. Isabel Nery reforça ainda que o jornalismo e as redes sociais não são o mesmo, estas são apenas um veículo por onde se pode transmitir alguma informação, “as redes sociais não são meios de comunicação e isso é muito importante de se perceber”.


A jornalista conclui assim que todas as situações referidas, juntamente com a precariedade do jornalismo, os baixos salários, a falta de recursos e o excesso exigido pela tecnologia fazem com que “seja difícil manter uma relação saudável com o profissão”, explica também que tudo isto não acontece sempre, basta tomar algumas medidas nomeadamente que as leis laborais se cumpram. 


Falamos também com Joana Martins, que foi jornalista do Diário de Coimbra e do Diário de Viseu, e nos dias de hoje é professora na Escola Superior de Educação de Viseu. Tentámos perceber então qual é a visão de um ex-jornalista sobre este tema. Joana Martins revela que um dos principais motivos dos profissionais na área entrarem em burnout está “relacionado coma pressão e com o esvaziamento das redações”. A professora evidencia que o jornalismo é uma profissão que requer muita responsabilidade e que a pressão que se sente diariamente para ser os primeiros a dar notícia e ao mesmo tempo da parte dos jornais, rádios e televisões o desinvestimento, “traz um sentimento de corrida contra o tempo que dificilmente conseguimos ganhar sem pôr em risco a nossa saúde mental.”


Questionamos também se as redes sociais e as opiniões do público podiam afetar o jornalista e deixá-lo mais vulnerável ao burnout. Joana Martins afirma que o ódio nas redes sociais também tem um papel significativo na jornada de um jornalista, mas considera que não é o principal fator. A ex-jornalista chama a atenção ainda que “precisamos de um jornalismo forte e de jornalistas que sejam valorizados e respeitados e não explorados nem maltratados.”

WhatsApp Image 2024-01-24 at 00.20.06.jpeg

Excesso de trabalho

Numa outra posição completamente diferente, falámos com a estudante, Yoana André que acha que o principal motivo do burnout nos jornalistas é principalmente “pela sensação de serem substituídos e pela forma como as pessoas veem o trabalho dos jornalista". A estudante sublinha que tem noção que atualmente “no mundo da comunicação” os profissionais são facilmente substituídos e que isto deixa os jornalistas em constante stress e com medo de deixar de trabalhar.  Yoana André realça ainda que muita gente ainda vê o trabalho dos jornalistas de uma forma negativa, que “só noticiam fake news ou que só querem descobrir pontos negativos da vida das pessoas” e isto faz com que muitos jornalistas não sejam valorizados pelo seu trabalho.


“Compreendo perfeitamente que imensos jornalistas tenham burnout, nunca vi nenhum a ter o seu devido valor e deviam porque é um trabalho de muito esforço”, conclui a estudante. 

bottom of page