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Estudantes já não escolhem tanto jornalismo e porquê?

11 NOVEMBRO 2023

Apesar de o jornalismo ter um papel fulcral e ser essencial na sociedade, o setor vive dificuldades. Estudantes de comunicação social optam por desconsiderar o jornalismo devido aos baixos salários e fogem a essa saída profissional. Na Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV), alunos e professores mostram o desânimo relativamente ao jornalismo de imprensa em Portugal e no Mundo.

por Mafalda Oliveira

Estudantes de comunicação social têm deixado jornalismo como última opção

Numa era cada vez mais tecnológica e desenvolvida em vários meios, o cenário dos media sofre diversos constrangimentos, entre eles, a remuneração desadequada ao esforço que a profissão exige. E esse é um dos motivos para os alunos não se interessarem pela carreira jornalística.

Joana Martins, jornalista e professora da ESEV, realça a importância que a imprensa tem na sociedade e mostra a sua visão face aos problemas que o jornalismo atravessa. “É um pilar importantíssimo da democracia, portanto, eu acho que isto passa muito por reforçar as formas de financiamento dos meios de comunicação social, para garantir a sua independência e pagar dignamente aos jornalistas” acrescenta ainda, que “as pessoas não estão dispostas a pagar pelo jornalismo” o que desfavorece muito a área e desmotiva os profissionais. “É uma profissão de muita responsabilidade e que não é, nem nunca foi paga como tal, e nesse ponto de vista eu percebo que as novas gerações tenham receio do jornalismo e que se afastem cada vez mais” afirma Joana Martins.

Paulo Bruno, professor há 12 anos na ESEV afirma que, “desde o final do século XIX que se debatem questões sobre o jornalismo nunca ser bem pago, porque faz parte de um acrescento de uma profissão, mas isto não só em Portugal, também na Espanha, França e Alemanha por exemplo” salienta assim, não ser apenas um problema local, mas sim uma tendência global que já vem de fatores económicos antigos que são enfrentados até hoje por muitos profissionais. Observa ainda que a área da comunicação social tem vindo a “perder um pouco da sua essência” com as mudanças que têm sido feitas devido ao estado da indústria dos media.

A perspetiva de estudantes de Comunicação Social

Joana Rocha, aluna do 3º ano de Comunicação Social (CS) comenta que: “queria ser jornalista, mas mudei completamente a mentalidade, porque o jornalismo é mal pago, não há muitas oportunidades de emprego e já está muito saturado”, uma visão que revela a mentalidade de muitos estudantes que se encontram em época de escolher o que vão fazer profissionalmente.

Alternativas que aparentam ser mais promissoras, são o escape para muitos alunos, como o marketing digital, produção ou redes sociais.

Um estudo sobre as “Expectativas e perspetivas sobre o jornalismo” realizado por João Miranda e Carlos Camponez, investigadores do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra, procura perceber de que forma é que o jornalismo se encontra atualmente em Portugal. O inquérito feito a 1091 alunos de 38 licenciaturas e mestrados das áreas de jornalismo e comunicação social, no ano letivo 2020-2021, revela que 35,8% dos estudantes pensam em trabalhar em jornalismo, mas que a prioridade não é essa e que 9,9% afirmam não quererem trabalhar de forma alguma na área. Dos 79 inquiridos que revelam não estarem dispostos a praticar jornalismo no futuro, as justificações mais recorrentes são, o salário insuficiente “para suportar uma vida boa nos dias de hoje em Portugal”, “uma profissão mal paga e com má reputação”, ou ainda afirmam considerarem um trabalho muito limitado, restritivo, desvalorizado e que dá oportunidade a pessoas que não têm formação na área.

Para além disso, dos 194 inquiridos que indicaram a possibilidade de exercerem uma profissão sem ser o jornalismo, 53,8% alegam quererem trabalhar em produção de entretenimento, 38,1% em marketing, 35,5% em publicidade, 32,4% em comunicação organizacional e 22,4% indicaram outras áreas que não foram especificadas.

Inês Lopes, do 2º ano de CS, revela que “a televisão está a conquistar” o seu coração. Apesar de ter vindo para um curso que tinha a noção que sempre foi visto como “uma alavanca para o jornalismo”, acredita que essa nunca será a sua opção. “Tenho bem ciente que futuramente irei trabalhar na televisão ou na rádio, na área do entretenimento, mas não me vejo de todo a fazer notícias para um jornal”. E acrescenta ainda: “apesar de estar em comunicação social, acho que hoje em dia temos opções que são mais favoráveis para a nossa estabilidade financeira e até para a nossa carreira”.

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