Imprensa regional: Qual o futuro dos jornais impressos?
5 DEZEMBRO 2023
“Espero que nunca acabe o jornal no papel porque é diferente…”

Rodrigo Leite na redação do Jornal Ilhavense
Os jornalistas têm um papel importante na aproximação das comunidades regionais, prevalecendo a importância de haver honestidade nas suas escolhas editoriais. O surgimento da Internet trouxe novos desafios com impacto direto nas escolhas editoriais, o que leva a questionar o futuro do jornal impresso. Rodrigo Leite de 45 anos e jornalista há 3 anos no Jornal Ilhavense, aborda a falta de valorização dos jornais em papel e a desvalorização da área cultural.
por Soraia Ferreira
Enquanto o futebol continua a reinar nas manchetes a nível nacional, a cultura luta pelo espaço no cenário jornalístico, onde a necessidade de atrair leitores e gerar receitas muitas vezes afasta a diversidade cultural. O jornalista possui um papel importante na divulgação dos eventos de cultura, bem como, o papel de tentar dar voz a quem é menos conhecido. Rodrigo Leite, destaca que a falta de realce para algumas áreas culturais, pode criar uma sensação de desigualdade, “a cultura não é só concertos, teatros e discos”.
A batalha entre notícias rentáveis e imparcialidade é um tema recorrente na indústria jornalística, onde o clickbait muitas vezes está presente. No entanto, o jornalista, destaca a importância de manter a honestidade, especialmente a nível regional, onde as comunidades são mais próximas e atentas.

Capas do jornal Ilhavense pintadas à mão e ilustrações da cidade de Ílhavo
Questionado sobre a falta destaque de cultura nos media, Rodrigo Leite afirma que “não há falta de destaque”, mas como pessoa sente que “há muita cultura que não entra nos jornais, muitas vezes é uma decisão editorial que está relacionada ao dinheiro e com o retorno financeiro”. As notícias de entretenimento predominam na parte cultural, notícias do Big Brother, a vida de famosos ou algum assunto “cor-de-rosa”, vende muito mais e faz com que haja mais interesse por parte dos leitores, “quase que parece que há filhos e enteados, porque uns têm sempre a atenção toda, têm o destaque que precisam ter e os outros não, há muita gente que não tem uma linha escrita, uma palavra escrita…”, destaca Rodrigo Leite. Um jornal a nível local, tem mais vantagens pois é possível dar voz a quem é menos reconhecido, há espaço para isso, enquanto num jornal nacional, a cultura mais pequena dificilmente terá espaço para isso, devido à imensidão de temas que existe a nível nacional e à importância que os jornalistas dão a artistas “grandes” e com maior visibilidade.
O jornalista de Ílhavo, salienta a tentativa de dar equilíbrio às capas dos jornais, “tento que haja um bocado de equilíbrio na capa do jornal, tento meter um tema de cada área, pode ser cultura, política, desporto, questões sociais relacionadas com Ílhavo...”
“Espero que nunca acabe o jornal no papel porque é diferente”
Com o surgimento da Internet, começou a ser possível arranjar mais contactos com as pessoas, dando o acesso a muita informação que antes não existia, permitindo uma maior facilidade em arranjar fontes.
Inevitavelmente, a Internet acaba por afetar o que o jornalista escolhe para publicar no jornal pois faz com que haja acesso a muita mais informação, sendo importante filtrar aquilo que realmente é importante. “A Internet afeta o que metemos no jornal pois temos acesso a mais informação”, salienta Rodrigo Leite. Apesar das vantagens que a Internet dá, os jornalistas têm dificuldade em perceber qual o seu modelo de negócio e apesar de no online ser quase tudo grátis, Rodrigo afirma esperar que “nunca acabe o jornal no papel porque é diferente, é melhor ler em papel um texto grande que no computador”.