"Não acredito muito que as máquinas substituam os jornalistas"
2 DEZEMBRO 2023
Com a evolução tecnológica várias mudanças foram acontecendo, umas mais positivas que outras, mas todas com influência no jornalismo. A credibilidade das notícias e a imparcialidade dos jornalistas são aspetos questionados diariamente.
Numa Grande Entrevista ao jornalista Manuel Proença de 59 anos, atual redator no jornal Defesa de Espinho, ficamos a entender de que maneira as plataformas digitais, os novos métodos de trabalho e a própria comunicação social afetam a sua carreira.
por Mafalda Oliveira

Jornalista Manuel Proença trabalha no jornal Defesa de Espinho há mais de 34 anos
Mafalda Oliveira: Quais são os fatores que na sua visão contribuem significativamente para a crise dos media nos últimos anos?
Manuel Proença: Para mim um dos principais fatores, que provocam a crise nos media é a questão das redes sociais que são usadas por todos, por quem sabe e por quem não sabe, usadas da melhor forma, por nós, jornalistas, mas sobretudo por parte do cidadão comum que não utiliza de forma conveniente e de forma informativa a rede social para transmitir notícias.
MO: De que maneira os avanços tecnológicos influenciam a confiabilidade de informações divulgadas nos media? Que medidas podem ser tomadas para enfrentar essa ameaça?
MP: Eu não sei se será uma ameaça. Os avanços tecnológicos, eu não considero que sejam uma ameaça. Eu vim de um jornalismo escrito, em que era escrito à mão, em que havia uns gravadores, muito diferentes do que são hoje, como o telemóvel e o gravador digital. Vim de um jornalismo escrito, que era escrito numa máquina de escrever, em que eu ainda escrevi alguns anos, e compreendo perfeitamente as dificuldades que era escrever numa máquina daquelas. Eu tive de me adaptar e entusiasmei-me em adaptar-me às novas tecnologias.
Construir uma notícia com um computador e o que isso simplifica, em termos de escrita... já não tenho que rasgar e colar papéis, mas sim cortar, acrescentar, fazer alterações, reduzir o tamanho do texto, é tudo mais facilitado. As inovações tecnológicas, eu acho que vão sempre ajudar-nos no mundo do jornalismo. Eu hoje tenho um telemóvel no meu bolso e tiro uma fotografia de um acontecimento qualquer e consigo fazer uma notícia. Antigamente tinha de ir procurar uma câmara fotográfica para ter uma imagem ou ter um fotógrafo comigo. Eu sinceramente não sei como é que vai ser daqui a uns anos nem o quê que aí virá, eu não acredito muito que as máquinas substituam os jornalistas, os jornalistas são fundamentais, têm o seu papel.

Tipógrafo usado como ferramenta para escrever os primeiros jornais da Defesa de Espinho

Manuel Proença afirma que poder usar o telemóvel como câmara fotográfica foi das evoluções tecnológicas que mais o agradou
MO: A rapidez na divulgação de notícias online, afeta a precisão de informações? Que praticas é que os meios de comunicação devem adotar para garantir a veracidade das notícias mesmo num ambiente de constante pressão por tempo?
MP: Eu tive um diretor que me dizia assim, “eu prefiro perder uma grande notícia, do que estar a cometer um grande erro”. Um dos princípios fundamentais do jornalismo, é o rigor da informação, da verificação das fontes e da própria veracidade da informação, às vezes a pressa não é o melhor caminho.
Independentemente da rapidez e da velocidade de publicação de informação, mesmo a nível dos jornais, através dos próprios sites, das edições digitais, das páginas nas redes sociais, é fundamental que se tenha a certeza daquilo que se está a fazer, daquilo que se está a dizer e a publicar. Tem de haver um rigor e o rigor é fundamental.
MO: A credibilidade dos media muitas vezes é questionada durante acontecimentos de grande importância. Como é que os meios de comunicação podem lidar com a pressão de cobrir acontecimentos críticos sem comprometer a integridade jornalística?
MP: É muito difícil, nós vemos atualmente nas guerras e nas manifestações, não obstante a própria identificação do jornalismo e a própria proteção que o jornalista vai tendo, está sempre sujeito a pôr em causa a sua integridade física, por parte daqueles que gostam e dos que não gostam.
O jornalista é alvo de danos colaterais, porque está a tentar colocar-se em cima do acontecimento, o mais próximo possível, para poder depois transmitir cá para fora a confiabilidade desse mesmo evento.
Ouvir a entrevista na íntegra: