RCI: Há 40 anos a dar a volta às adversidades
Amadeu Araújo e Carlos Santos, diretor de programas e locutor, respetivamente, revelaram ao Autoavaliação de que forma a Rádio Clube do Interior (RCI) lida com as dificuldades verificadas na estação ao longo dos anos. Entre problemas económicos até aos “sermões de ouvintes", os dois trabalhadores da rádio afirmam que todas as complicações têm sido ultrapassada.
Inês Brás
24 JANEIRO 2024

Carlos Santos e Amadeu Araújo no estúdio da RCI
A estação de rádio beirã surgiu em 1983, numa época onde as rádios piratas começaram a aparecer e é constituída por duas vertentes que se complementam entre si: a Rádio Clube do Interior (RCI) e a Rádio Cultura de Seia (RCS). “Somos duas rádios que tentam fazer a ponte para aquilo nós chamamos a grande beira”, afirmou Amadeu Araújo, diretor de programas da estação radiofónica.
A Rádio Clube do Interior, atualmente dirigida por Rafael Raimundo, é uma estação de informação, que também produz animação musical e um conjunto de rubricas, programas e podcasts. Amadeu, que para além de diretor de programas da RCI, também é jornalista no Expresso, edita uma revista, é cronista e lança um livro a cada dois anos, destacou que os diversos programas desta rádio, abordam temas como o empreendorismo, uma crónica de costumes "Sapato novo e pé velho”, assinada pelo diretor de programas, entrevistas semanais onde indicam preferir falar com “o padeiro" em vez do “novo coronel que deu posse no Regimento de Infantaria (de Viseu)” porque afirmam ser preciso ouvir essas outras vozes. Têm também outros programas sobre saúde, livros “aconselhamos um livro por semana”, informou o também jornalista do Expresso, ao que Carlos Santos, um dos locutores da RCI acrescentou “é uma gestão de leitura”.

Amadeu Araújo, diretor de programas da RCI, que resolveu dar visibilidade ao logotipo da RCS para a captura desta imagem
Tal como todos, ou quase todos os meios de radiodifusão, a Rádio Clube do Interior também sofreu algumas adversidades, tais como os problemas económicos. Para que esta crise financeira não prejudicasse ainda mais a rádio, os trabalhadores da estação realizaram feiras “Tínhamos um computador e fazíamos mais rua para ganhar mais notoriedade”, revelou o jornalista. No entanto, ambos os entrevistados deram a conhecer ao Autoavaliação que, mesmo com falhas a nível económico, nunca tiveram um atraso no ordenado “nunca tive salários em atraso”.
Um dos maiores softwares de automação da rádio no mundo, foi desenvolvido pelo diretor da RCI e esta conquista tem permitido à rádio “tocar a tecnologia nova em primeiro lugar, ter outras fontes de receita, resolver os seus próprios problemas e permite-nos, de alguma forma, acompanhar a evolução tecnológica.", tendo sido esta outra solução para o resistir dos problemas económicos.
“Se for trabalhar apenas num setor específico numa rádio não se safa”
Carlos Santos, não só é locutor e animador da estação de radiodifusão beirã, mas também informático e assistente de programas. Carlos admite que “hoje em dia, numa empresa globalista, se for trabalhar apenas num setor específico numa rádio (o radialista) não se safa, não tem como ultrapassar". O locutor dá ainda o exemplo de Amadeu, ao afirmar que o diretor de programas, mesmo sendo jornalista, tem de trabalhar em vários órgãos de comunicação e que esse conjunto de trabalhos é que leva a que o valor do ordenado total vá para o seu bolso ao final do mês.
Questionados acerca do equilíbrio entre a evolução tecnológica e a rádio tradicional na RCI, Amadeu confessou que “essa parte é a mais fácil delas todas” devido ao facto dos radialistas terem a oportunidade de trabalhar em casa, através do computador e dos programas instalados, sem ser necessário dirigirem-se a estúdio.

Carlos Santos, locutor da RCI, posicionado num local que estima: a rádio. “Gosto do que faço, gosto de rádio”
Relativamente à opinião dos ouvintes, Carlos e Amadeu declaram estar sempre atentos ao que se ouve, porque “se a audiência manda uma opinião ou bitaite, nós temos de ter isso em atenção”. Assim sendo, precisam de analisar o que poderá estar a falhar e retificar os possíveis erros para cativar a audiência “trabalhamos para o público e se não tivermos audiência, estamos perdidos”.
Admitem já ter ouvido alguns “sermões de ouvintes", que já existiram marcas e afins a deixar de querer fazer publicidade à rádio e já finalizaram renovações de contratos, mas o importante e imprescindível é que a “verdadeira essência do jornalismo, da rádio e da liberdade é absolutamente zero censura para os clientes com quem trabalho”, partilhou o diretor de programas com o Autoavaliação.
“Viseu pode ter mais rádios, mas emissores no conselho de Viseu esta é única"
Amadeu Araújo menciona que os trabalhadores da rádio têm um problema “sério”: “às vezes queremos mais e queremos andar mais depressa, mas (eu) já vou para velho e a vida já me ensina a testar primeiro o modelo e só depois pô-lo em prática”.
“Um passo de cada vez é o que tem permitido que esta ainda seja “a única de Viseu"", rematou o também cronista.
Com uma audiência bastante elevada, a Rádio Clube do Interior distingue-se por ser “única”: “Viseu pode ter mais rádios, mas emissores no conselho de Viseu esta é única", afirmou o diretor de programas. A RCI emite nas frequências moduladas de 105.5 e 104.8 com a portadora Radio Data System (RDS).