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Simão Reis – A importância da rádio no desporto

2 DEZEMBRO 2023

Simão Reis, jornalista desportivo de 21 anos, natural de Portimão, recém-licenciado em comunicação social pela Escola Superior de Educação de Viseu, realizou o seu estágio curricular na SIC. Após esta experiência no âmbito televisivo, Simão Reis, ingressou, novamente, no mundo desportivo, mas desta vez, pelas portas da rádio Alvor Fm.

À conversa com o nosso ciberjornal Autoavaliação, Simão deu-nos a conhecer a sua perspetiva, relativamente ao papel que a rádio desempenha, atualmente, na difusão do jornalismo desportivo.

por Gustavo Lourenço

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Simão Reis ao lado de Luís Bento Antunes no Portimão Estádio a cobrir o Portimonense VS Braga.

Gustavo Lourenço: Tendo em conta que realizaste o teu estágio curricular na SIC, como jornalista desportivo, que razões te levaram a ingressar na rádio?

Simão Reis: Há cerca de 10/11 anos que eu queria experimentar a rádio, fazer relatos de futebol sempre foi algo que eu quis muito. Depois da experiência que tive na SIC, que era um jornalismo completamente distinto, percebi que estava numa altura em que podia experimentar coisas, então surgiu esta oportunidade e percebi que, numa altura inicial da minha carreira, podia experimentar aquilo que sempre quis fazer, neste caso comentar e relatar jogos de futebol.

GL: Que diferenças é que existem entre ser jornalista desportivo na rádio e na televisão?

SR: Não tem nada a ver. Eu por exemplo, na SIC, ajudava muito no programa “Jogo Aberto” que é o programa de desporto que fazem lá, ajudava a programar, via os assuntos de futebol do dia e fazia gráficos. Fora do programa fazia também várias notícias de desporto para os jornais. Na rádio, também é algo diferente porque não estou a fazer noticias, mas é diferente porque aqui tu vives o desporto de maneira diferente. Na televisão vives o desporto dentro daquilo que são transferências e notícias que se tornam públicas, enquanto na rádio estás mesmo dentro do jogo e é uma maneira completamente distinta.

GL: Como está a ser a tua adaptação à radio, tendo em conta que esta é a tua primeira experiência?

SR: Está a correr muito bem, sinto que é aquilo que queria fazer, então sabia que podia fazer isto bem, que tinha jeito para fazer rádio, portanto está a ser mais fácil do que eu pensava que ia ser. Ajudou também o facto de a pessoa que me convidou ser um amigo, o que ajudou nesta transição.

“Eu acho que a rádio é muito mais emocional do que a televisão”

GL: Consideras importante a função da rádio na difusão do jornalismo desportivo?

SR: Eu acho que a rádio é muito mais emocional do que a televisão, quando falamos de futebol, por exemplo. Temos o golo do Éder que é a prova disso, nós temos dois tipos de comentário, onde o comentário de futebol, por muito emotivo que seja, por ser a circunstância que foi, na rádio é muito mais emocional e a mim faz me arrepiar sempre que oiço e, portanto, acho que a rádio na difusão ao jornalismo desportivo também tem esse ponto, que torna as coisas muito mais verdadeiras, muito mais cruas.

GL: Como atualmente estás a desempenhar funções na rádio, o que tens a dizer sobre o esquecimento da rádio em relação aos jornais e à televisão?

SR: Vem de forma natural, a televisão é mais complexa, de certo modo, do que a rádio. A rádio teve o seu papel na altura do aparecimento da comunicação social, entretanto chegou a imagem e a televisão acabou por tomar o seu lugar, como sabemos que hoje toma. Ainda assim, acho que a rádio devia ter um papel mais importante do que aquele que tem, só que é preciso ser feita uma mudança nas pessoas, uma vez que com a evolução das tecnologias as pessoas deixam de querer ouvir rádio. O que é triste porque temos nomes gigantes da rádio em Portugal, como Jorge Perestrelo, por exemplo, isto para dizer que a voz de uma pessoa que faz rádio é completamente diferente da voz de uma pessoa que faz televisão. Digo isto porque para mim a voz é algo importante, que tu quando ouves uma voz possante, que sabe falar, chega até a ser arrepiante.

GL: Atualmente, na tua opinião, o que é que falta à radio para atingir mais público no jornalismo desportivo?

SR: Neste momento, não sei. É difícil. Eu sinto que aqui na Alvor Fm, onde estou, é mais fácil porque nós cobrimos jogos não só do Portimonense, como também do Esperança de Lagos, que tem muitas pessoas que apoiam a equipa e na indisponibilidade de se deslocarem ao jogo, a única maneira que tem de acompanhar o mesmo é através do relato. Nestas rádios locais acaba por ser mais fácil porque estes jogos não têm cobertura televisiva. Digamos que tudo aquilo que a televisão não passa e a rádio passa, dá pontos à rádio. Para além disto, o passar também para o online foi algo que ajudou a rádio Alvor, através de um site, em que as pessoas podem ouvir a emissão por computador. Contudo, acho que é uma altura difícil para a rádio, porque enquanto a televisão conseguir passar tudo aquilo que a rádio passa, mas com recorrência aos meios visuais, vai ser difícil para a rádio combater isso.

GL: Antigamente, as pessoas recorriam bastante à rádio para ouvir os relatos, o que hoje em dia parece já passar um pouco ao lado de quem costumava fazer isso, visto que parecem optar mais pela televisão, sendo o relato usado apenas em última instância… o que tens a dizer sobre isto?

SR: A minha opinião é muito clara. Eu prefiro mil vezes um relato de uma rádio do que um relato de uma televisão e há poucos casos de comentadores de televisão que eu consigo ouvir. Em contrapartida, na rádio tens pessoas que realmente sabem do que estão a falar. Os locutores tem de falar de uma maneira que os ouvintes consigam perceber o que está a acontecer. O relato na rádio não para, enquanto um jogo na televisão é muito mais calmo.

GL: Dada a crescente preferência das pessoas por meios de comunicação visuais, como a televisão e a internet, como é que encaras o desafio de cativar a atenção do público através apenas do áudio na rádio?

SR: É difícil, ainda para mais estando eu numa rádio histórica, na cidade de Portimão, como a Alvor Fm, temos nome aqui na região. Há várias pessoas que ouvem, mas ainda assim é difícil, porque ou dependemos da população mais velha que não está habituada à televisão e derivado a isso ouvem mais rádio, ou então as pessoas que querem ver jogos que não passam na televisão e são obrigados a optar pela rádio. Acaba por ser difícil, mas eu sinto que se tu gostas daquilo que fazes e se tens uma voz capaz de cativar as pessoas… Mas, mais uma vez realço a importância da voz para fazer rádio. Acho que os ouvintes ficam impressionados com alguém que faz bem o seu trabalho como locutor, porque devido à ausência de imagem, a rádio tem de compensar noutras coisas.

Simão Reis a fazer a cobertura do Portimonense VS Braga

GL: No contexto do jornalismo desportivo, como é que a rádio contribui para a experiência do ouvinte de uma forma que a televisão e os jornais não conseguem replicar?

SR: Para mim é a forma com que tu desempenhas o teu trabalho, eu acho que a experiência de ouvir um relato numa rádio é completamente diferente do que um relato na televisão, porque a televisão está mais resguardada, e ainda assim cometem-se muitos erros na televisão, por parte dos comentadores. Já na rádio tu não tens margem de erro, porque tens a função de transmitir bem o que se passa no jogo. Eu, por exemplo, costumava ver o jogo na televisão enquanto ouvia o relato na rádio, mas cada pessoa é que sabe o que quer ouvir.

GL: Considerando que a rádio é muitas vezes associada a uma forma mais intimista de consumo de notícias, como ajustas a tua abordagem jornalística para criar uma ligação mais próxima com os ouvintes?

SR: Na rádio, quando relato os jogos, sinto-me como se estivesse a falar mesmo para as pessoas. O ouvinte é o recetor e quem está a relatar é o emissor, e neste caso, o emissor não recebe nenhum feedback. Mas eu sinto que é uma opção mais intimista, é como se estivesses a contar uma história para alguém que te está a ouvir, é como quando és bebé e para adormecer precisas que te leiam um livro, é quase o mesmo, porque é a tal questão, tu não tens a componente visual, então tens apenas de confiar naquilo que a pessoa está a relatar, e acho, muito sinceramente que as pessoas que ouvem a rádio sentem essa proximidade com o locutor e confiam, e caso não confiem eu sei que vão acabar por falar disso nas redes sociais, isto porque, hoje em dia, as rádios também tem que estar muito presentes lá, os tempos estão a mudar.

GL: Achas que com o crescimento das redes sociais, pode ser uma estratégia usar esse meio para alcançar e interagir com mais público, especialmente aquele que procura informações desportivas?

SR: Claro! É sempre uma mais-valia, quanto mais abrangente uma rádio poder ser, melhor. Atualmente as redes sociais de uma rádio tem muita participação, muitas pessoas que vão comentar, que interagem com a rádio, e claro que isso pode ajudar, é mais uma ajuda para a rádio, porque as pessoas podem seguir nas redes sociais e através desse meio, ouvirem a emissão, ou acompanhar as publicações. Há muitas rádios que tem crescido bastante através das redes sociais, porque as pessoas estão muito mais ligadas as redes agora.

GL: Com a evolução tecnológica, como vês o futuro da rádio no jornalismo desportivo? Existem novas abordagens ou formatos que consideras promissores?

SR: Claro que existem sempre coisas que podem ser feitas, mas eu acho que a rádio já tem o seu produto final há muito tempo, a rádio é aquilo! As pessoas podem achar secante ou simples, mas por vezes o simples é ainda mais difícil, isto porque estamos numa altura em que as pessoas não conseguem prestar atenção a uma coisa durante muito tempo. Por exemplo eu acho uma boa ideia haver um espaço numa rádio, onde possa haver um podcast sobre futebol, ou outro desporto qualquer, uma conversa de 20/25 minutos, que pudesse agarrar os ouvintes que querem ouvir mesmo aquilo, mas é a questão de, hoje em dia, muito devido às redes sociais, as pessoas não conseguem prestar atenção a algo durante mais que 7 minutos e colocam a necessidade de algo novo e de mais conteúdo.

“Nós estamos como estamos porque houve uma rádio na altura do 25 de abril”

GL: Acreditas que as rádios podem beneficiar de estratégias de colaboração com outras plataformas, como jornais locais ou websites desportivos, para fortalecer a sua presença no jornalismo desportivo?

SR: Eu acho que sim. Aqui no algarve é muito complicado, porque parece que não há assim nenhum órgão que cubra assim esses ângulos, existe o Sul informação, o Sotavento e o Barlavento, mas sim, sempre que conseguires formar uma aliança com algo que te possa beneficiar em termos de ouvintes ou em termos de cobertura é claro que te vai ajudar! Não digo que seja uma ajuda extrema, ou absurda, mas devagarinho vai melhorando. Mas é como digo, é uma altura complicada para a rádio que está aqui há tanto tempo e as gerações mais recentes não percebem o que é a rádio e o poder que a rádio tem em Portugal. Nós estamos como estamos porque houve uma rádio na altura do 25 de abril, e por isso tem um papel muito importante no nosso país e, é difícil com os tempos manter essa importância e vê-se isso com um grande número de rádios que deixaram de existir, torna-se complicado conseguir combater com canais de televisão, canais de Youtube, isto porque se a informação depender apenas do áudio as pessoas vão acabar por não suportar tanto.

GL: Estás agora na Alvor Fm, na tua perspetiva, qual é o papel da rádio no contexto da cobertura desportiva local, especialmente numa região como Portimão?

SR: É muito importante, visto que em Portimão e no Algarve, existe muita população idosa e há muitos idosos que não conseguem ver televisão, então guiam-se muito pela rádio. Isto comprova-se com uma preferência gigante dos nossos ouvintes que preferem ouvir um relato de um jogo do campeonato distrital, do que um relato de um jogo do Portimonense contra o Braga para a taça de Portugal. É muito mais entusiasmante e por isso optamos por dar mais tempo de antena aos clubes da terra, porque é isso que é mais importante para quem nos ouve. Ainda assim torna-se um pouco difícil cobrir todos os jogos da região porque existem poucos apoios e então nas rádios locais isso nota-se ainda mais.

“Tens de ser rápido a explicar aquilo que está a acontecer e rápido a formar as frases”

GL: Como jornalista desportivo na rádio, sentes que há uma pressão adicional para proporcionar um ambiente mais emocional e envolvente, uma vez que não contas com a componente visual como na televisão?

SR: Claro que sim, eu arrepio-me muito mais a ouvir relatos de rádio do que relatos de televisão. Um relatador que consiga, com a sua voz, explicar o que está a acontecer e desenhar na cabeça do ouvinte o jogo é uma experiencia mágica, porque é muito complicado, tens de ter um conhecimento muito apurado do futebol, o futebol não é uma coisa simples. Então quando tu estás numa posição em que tens de cobrir um jogo e tens de conseguir explicar às pessoas aquilo que está a acontecer é muito difícil. Porque não é só falar, tens de ser eloquente, tens de ter uma dicção brilhante porque o jogo está sempre a correr, tens de ser rápido a explicar aquilo que está a acontecer e rápido a formar as frases. Ter a cabeça preparada para qualquer palavra porque depois também tens muita consciência daquilo que podes ou não dizer.

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